Quando pensamos na palavra Natural, ela parece simples à primeira vista. No entanto, ao olharmos mais de perto, percebemos que ela carrega uma carga expressiva de significados e implicações. Desde dietas alimentares até comportamentos humanos, o termo Natural tem sido amplamente utilizado no senso comum como sinônimo de algo bom, correto ou esperado. Mas, <O que Significa ser Natural?>
Natural: Entre o Real e o Concebido
De acordo com o projeto Understanding Science do Museu de Paleontologia da Universidade da Califórnia, a palavra Natural refere-se a tudo o que existe, independentemente de sua origem. Essa perspectiva, portanto, abrange:
- Matéria física
- Forças que atuam sobre a matéria
- Energia
- Elementos biológicos
- Sociedade humana e seus produtos
Em outras palavras, do ponto de vista científico, tudo o que podemos observar ou experimentar faz parte da natureza, sem distinção entre o orgânico e o inorgânico.
Reforçando essa ideia, o historiador Yuval Harari oferece uma reflexão que vai além. Em ‘Sapiens’, ele afirma que, do ponto de vista biológico, “[…] não existe nada que não seja natural. Tudo o que é possível é, por definição, também natural.” Harari destaca que nossos conceitos de Natural e não Natural não são fundamentados na Ciência, mas sim na Teologia.
Enquanto a abordagem científica considera natural tudo o que existe de forma concreta, nossas interpretações culturais definem o que é ou não natural com base em valores, crenças e convenções sociais. Isso pode gerar tensões entre a realidade observável e nossas construções abstratas.
O Natural como Construção Social
A compreensão científica contemporânea do Natural ganha profundidade quando confrontada com reflexões filosóficas. Jean-Jacques Rousseau (1712 – 1778), por exemplo, em sua obra clássica, ‘O Contrato Social’, desmistifica a naturalidade da família. Para ele, o vínculo familiar inicialmente se apresenta a partir de necessidades biológicas, mas sua continuidade depende de escolhas conscientes. Uma vez cessada a dependência dos filhos, a permanência familiar torna-se uma convenção, não um imperativo da natureza.
Essa análise nos leva a uma conclusão importante: o que chamamos de Natural muitas vezes reflete nossas escolhas e valores, não verdades absolutas. A natureza pode fornecer os materiais e as condições para a vida, mas cabe a nós decidir como utilizá-los.
O Uso Econômico da Palavra

Do ponto de vista econômico, a palavra Natural está associada a duas ideias principais: Saúde física e Gestão empresarial.
Saúde
Quando falamos de saúde, tendemos a acreditar que tudo o que é rotulado como Natural é automaticamente benéfico. Por exemplo, o Portal Manu recomenda: “[…] procure incluir na rotina uma alimentação natural, colorida e variada“, destacando os benefícios desse tipo de dieta para viver mais e melhor.
Por trás do rótulo Natural, muitas vezes escondem-se intenções econômicas. No caso dos alimentos, por exemplo, dizer que algo é Natural pode funcionar como um selo de diferenciação em relação a outros produtos. Isso cria uma percepção de valor agregado, mesmo que nem tudo o que é Natural seja necessariamente saudável.
Gestão
Aqui, o Natural é frequentemente entendido como esperado ou justificável. Um exemplo disso é a declaração do diretor executivo da empresa Uber ao falar a respeito da demissão de 400 funcionários: “Isso é natural quando as empresas crescem […]”. Nesse contexto, o termo serve para justificar uma prática entendida como inevitável.
O uso da palavra Natural na gestão empresarial pode suavizar decisões difíceis, tornando-as mais aceitáveis para funcionários, investidores e para o público em geral. A ideia de que certas mudanças são naturais transmite a impressão de que fazem parte de um processo orgânico e necessário, reduzindo possíveis resistências.
O Natural como Instrumento Político

Outro uso interessante desta palavra aparece no conceito de naturalização de uma pessoa. Quando um atleta se naturaliza em outro país, por exemplo, ele adquire o direito de representar aquela nação em competições internacionais, como campeonatos mundiais e Olimpíadas. Por isso, muitos países naturalizam atletas para fortalecer suas seleções e aumentar suas chances de sucesso. Um exemplo marcante foi o do goleiro de polo aquático sérvio, Slobodan Soro, que se “tornou brasileiro” em 2015, pouco antes dos Jogos Olímpicos de 2016, na cidade do Rio de Janeiro.
Da mesma forma, o conceito de naturalização pode ser empregado para legitimar comportamentos e estruturas sociais. Por exemplo, quando se afirma que é Natural que homens recebam salários mais altos do que mulheres pelo mesmo trabalho, essa ideia serve como um argumento voltado à manutenção dessa condição. Aqui, essa palavra é usada para disfarçar decisões culturais como se fossem regras biológicas, o que transforma determinadas disparidades em fenômenos um pouco mais difíceis de serem questionados.
Conclusão: Redefinindo o Natural
Em última análise, o conceito de Natural revela-se muito mais complexo do que uma simples descrição, pois nossas interpretações culturais, econômicas e políticas frequentemente atribuem a esse termo significados que transcendem o observável. Isso nos leva a refletir sobre a construção de nossas verdades, uma vez que o que consideramos natural pode, de fato, ser fruto de escolhas, valores e interesses específicos. Ao reconhecer essa complexidade, abrimos espaço para uma análise mais crítica e consciente das convenções que moldam, naturalmente, nossa percepção do mundo.
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