Você já parou para pensar em como a sociedade funciona? Por que algumas pessoas têm mais poder do que outras? Ou por que certas ideias se tornam “verdades” enquanto tantas mais são ignoradas? Se em algum momento da sua vida você já fez alguma dessas perguntas, então precisa saber <O que é Sociologia>
As Origens da Sociologia: Um Reflexo das Transformações Sociais
A sociologia não surgiu do nada, ou do vácuo, como diriam os físicos. Ela é fruto de um contexto histórico específico, marcado por mudanças radicais que desafiaram as formas tradicionais de pensar a sociedade. A Revolução Industrial e a Revolução Francesa – por exemplo -, com seus impactos na economia, na política e na vida social como um todo, foram catalisadores para o desenvolvimento de uma linha de pensamento que se propôs a compreender as complexidades do mundo moderno.
Em O Que é Sociologia, Carlos Benedito Martins apresenta esse tema. Em um contexto situado em uma Europa em transformação, ele aponta como os (considerados) primeiros pensadores da sociologia buscaram respostas para as questões que emergiam daquelas mudanças. O autor nos mostra que a sociologia nasceu da necessidade de compreender os desafios da modernidade, como a desigualdade social, a exploração do trabalho, a urbanização e a perda de laços comunitários.
A Sociologia em Construção: os Clássicos e seus Contextos
Desde pensadores que buscavam preservar a ordem social em meio ao caos até revolucionários que denunciavam o modo de produção emergente, muitos contribuíram para a construção do pensamento sociológico. Para o autor, cada um, a seu modo, ofereceu entendimentos sobre a natureza da sociedade, as relações de poder e as possibilidades de transformação.

Auguste Comte: O Pai do Positivismo
Nascido em meio às revoluções que transformaram a Europa, Auguste Comte (1798 – 1857) foi um dos primeiros a defender a ideia de que a sociedade poderia ser estudada assim como a natureza e seus fenômenos. Para ele, a sociologia seria a Ciência capaz de revelar as leis que governam a evolução da sociedade, tal como a física revela as leis da natureza.
Comte acreditava que a sociedade passa por três fases de desenvolvimento: a teológica, a metafísica e a positiva. Na fase positiva, a sociedade seria regida pela ciência e pela razão, e a sociologia teria um papel fundamental nesse processo. Sua visão, conhecida como positivismo, influenciou muitos pensadores e ainda é relevante para compreendermos a busca por ordem e progresso na sociedade moderna.
Karl Marx: O Crítico do Capitalismo
Contemporâneo de Comte, mas com uma visão bem diferente, Karl Marx (1818 – 1883) investigou as bases do capitalismo (ou do modo de produção Capitalista) para desvendar suas falhas e contradições. Para ele, a sociedade era um campo de batalha entre classes sociais, e o capitalismo, modo de produção que emergia com força na Europa do século XIX, era um sistema injusto que explorava a classe trabalhadora em benefício de classes dominantes.
Marx acreditava que a história da sociedade era a história da luta de classes, e que o capitalismo, inevitavelmente, seria substituído por uma sociedade mais justa, o comunismo. Suas ideias tiveram um impacto profundo no século XX, inspirando revoluções e movimentos sociais ao redor do mundo, e continuam a influenciar os debates sobre desigualdade social e justiça econômica.
Émile Durkheim: O Defensor da Coesão Social
Émile Durkheim, (1858 – 1917) por sua vez, dedicou-se a entender como a sociedade se mantém unida, mesmo diante das mudanças e dos conflitos. Ele estava preocupado com a coesão social, ou seja, com os laços que unem os indivíduos e garantem a ordem social.
Durkheim argumentava que a sociedade é um conjunto de instituições e normas que moldam o comportamento dos indivíduos e garantem a ordem social. Para ele, a sociologia deveria estudar os fatos sociais, que são as formas de pensar e agir coletivas que exercem coerção sobre os indivíduos. Durkheim também investigou o papel da religião na sociedade e desenvolveu o conceito de anomia, que se refere à falta de normas e valores que podem levar à desintegração social.
Max Weber: O Intérprete da Ação Social
Max Weber (1864 – 1920), outro grande nome da área, trouxe uma nova perspectiva para a análise da sociedade. Ele estava interessado nas motivações individuais, naquilo que leva as pessoas a agir de determinada maneira. Para ele, entender a sociedade significava entender as ações e os valores dos indivíduos.
Weber argumentava que a sociologia deveria se dedicar à interpretação da ação social, que é a ação dos indivíduos que fazem sentido para eles, e é orientada pelas ações de outros. Ele também desenvolveu o conceito de tipos ideais, que são modelos analíticos que nos ajudariam a entender a diversidade das ações sociais. Weber investigou a relação entre religião e economia, e destacou a importância da burocracia na sociedade moderna.
Como o Livro se Conecta aos Desafios Contemporâneos

José de Souza Martins escreveu O que é Sociologia na década de 1980, mas sua abordagem permanece surpreendentemente atual. O livro, ao apresentar os chamados clássicos do pensamento sociológico, estabelece bases analíticas para compreender problemas que se intensificaram no século XXI.
O livro destaca que a Sociologia questiona “verdades” aceitas, algo fundamental em uma era de desinformação e polarização. Nesse sentido, autores como Byung-Chul Han – por exemplo – argumentam que a atual manipulação de narrativas não vem apenas de cima (como no século XIX), mas é reforçada por algoritmos e bolhas digitais. A crítica sociológica, como proposta por Martins, ajuda a desvendar, portanto, como os fatos são construídos e instrumentalizados.
1. Positivismo e a Ilusão da Neutralidade Científica
A neutralidade científica proposta por Comte é questionada em contextos como os algoritmos de inteligência artificial, que prometem “neutralidade técnica” mas reproduzem vieses históricos. Cathy O’Neil aponta como sistemas algorítmicos, ao definir crédito, emprego ou até prisão preventiva, perpetuam desigualdades raciais e de classe – algo que Comte não previu.
2. Desigualdade e a Persistência do Capitalismo
Ao abordar Marx, Martins já alertava para a exploração sistêmica. Hoje, dados da Oxfam (2023) mostram que 1% da população detém 45% da riqueza global. A sociologia contemporânea, com pesquisadoras como Nancy Fraser, expande essa discussão para incluir interseccionalidade, como raça, gênero e classe se entrelaçam.
3. Anomia Digital e a Crise da Coesão Social
Durkheim analisou a anomia em sociedades em transição. Na era das redes sociais, essa “falta de normas” se manifesta como alienação digital e crises de saúde mental. Estudos de Sherry Turkle mostram que a hiperconexão mina laços autênticos, atualizando a teoria de Durkheim para um contexto de atomização tecnológica.
4. Burocracia e Algoritmos: A Nova Face do Poder
Weber via a burocracia como símbolo de racionalização. Hoje, algoritmos substituem decisões humanas em áreas como emprego, crédito e até justiça criminal. Nesse contexto, autoras como Evelyn Ruppert discutem como isso redefine o poder, tema que dialoga com a preocupação de Martins sobre como instituições moldam vidas.
Conclusão
O que é Sociologia não é apenas um manual de teorias passadas, mas um convite à reflexão crítica sobre o presente. Ao utilizar os clássicos como base , é possível conectar suas ideias a desafios contemporâneos mostrando essa campo do conhecimento como uma ferramenta viva, capaz de desvendar estruturas de poder estabelecidas. Martins reforça que a Sociologia não se limita a descrever o mundo, mas a interrogá-lo, alinhando-se à ideia de que esta é uma ciência dedicada à liberdade humana e aos obstáculos que ela enfrenta.
Agora que você conheceu um pouco sobre as linhas gerais deste importante livro introdutório sobre Sociologia, que tal compartilhar este conhecimento? Envie este texto para amigos e todos aqueles que, independentemente da área de estudo, se interessam por entender melhor as dinâmicas sociais.