A Inteligência Artificial está redefinindo o panorama global, e o mercado de trabalho se apresenta como um dos setores sociais mais impactados por essa onda tecnológica. Em uma entrevista elucidativa à Deutsche Welle, Gilbert Houngbo, Diretor-Geral da Organização Internacional do Trabalho, compartilhou algumas percepções a respeito dos desafios e oportunidades da <INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL NO MERCADO DE TRABALHO>
Entre Cortes e Novas Fronteiras
A respeito da magnitude da virtual ameaça que a Inteligência Artificial (IA) representa para os trabalhadores e a iminência de demissões em massa, Gilbert Houngbo reconheceu a realidade de perdas de empregos, mas com nuances importantes.
Segundo o Diretor-Geral da Organização Internacional do Trabalho (OIT), é inegável que a IA provocará a eliminação de milhões de postos de trabalho, um fenômeno que já se manifesta com centenas de milhares de vagas hoje.
No entanto, Houngbo equilibra esse cenário com uma perspectiva otimista. Ele enfatiza o potencial da IA para gerar um número ainda maior de novas oportunidades de trabalho, resultando em um saldo positivo.
O ponto central, para Houngbo, reside na gestão eficaz dessa transição e na adaptação da força de trabalho às novas demandas.
A prioridade, portanto, deve se concentrar na qualificação dos trabalhadores para que possam atuar em sinergia com as novas tecnologias.
Empregos Administrativos e o Impacto Desproporcional sobre as Mulheres

Ao abordar a vulnerabilidade dos empregos administrativos, Houngbo revelou uma preocupação crítica com a desigualdade de gênero.
Para ele, esses empregos, notadamente suscetíveis à automação total, são majoritariamente ocupados por mulheres.
Essa realidade as coloca em uma posição de maior vulnerabilidade, com potencial para exacerbar a disparidade de gênero no mercado de trabalho.
Houngbo sublinhou a urgência de políticas públicas proativas que incentivem a requalificação e o aprimoramento de habilidades, preparando as mulheres para os desafios do mercado de trabalho impulsionado pela IA.
Ele defende que a perda de empregos não será uma consequência direta da IA, mas sim da inabilidade dos trabalhadores em se adaptarem a um ambiente laboral cada vez mais dependente destas tecnologias.
Para ilustrar a gama de empregos sob ameaça, ele destaca:
- Atividades de Secretariado: Agendamento, organização documental e comunicação rotineira.
- Processos de Recrutamento: Triagem inicial de currículos e agendamento de entrevistas preliminares.
- Serviços de Interpretação e Tradução: Tradução de documentos e conversas.
- Criação de Conteúdo Básico: Geração de textos informativos e repetitivos.
O Deslocamento Silencioso e a Necessidade de Ações Contra o Vieses Humanos na IA
Houngbo confirmou que o deslocamento de empregos pela IA já está em andamento, um processo gradual e contínuo, exemplificado pela substituição de intérpretes humanos por IA em organizações internacionais.
Preocupado com o potencial da IA para agravar desigualdades, Houngbo defende políticas públicas que combatam vieses algorítmicos e promovam a equidade.
Ele acredita que a capacidade de desfazer vieses existe, dependendo da vontade política e de intervenções governamentais.
Além disso, ele alerta para a desigualdade no acesso digital, que pode aprofundar ainda mais as disparidades globais entre os que se beneficiam da IA e os que ficam à margem.
Solução para a Escassez de Força de Trabalho e Melhoria da Qualidade de Vida
Houngbo reconhece o potencial da IA para impulsionar a eficiência econômica, mas alerta para a necessidade de equilibrar inovação e proteção aos trabalhadores.
Para ele, a tecnologia não deve apenas substituir postos de trabalho, mas redefinir as relações laborais, como:
- Redução da jornada com equidade: A IA é vista como aliada para redistribuir benefícios, permitindo jornadas de trabalho mais curtas sem redução salarial – medida que combate esgotamento, aumenta produtividade e democratiza o acesso ao lazer e ao desenvolvimento pessoal.
- Governança colaborativa: A OIT mobiliza governos, empresas e sindicatos em diálogos multilaterais, buscando consensos sobre regulamentações que protejam direitos trabalhistas, assegurem transparência no uso de algoritmos e direcionem investimentos para setores socialmente estratégicos.
A viabilidade de um futuro equilibrado depende da capacidade de transformar propostas em pactos sociais, aponta o Diretor-Geral.
Educação na Era da IA: Complemento, não Substituição

No cenário educacional, a IA se apresenta como uma ferramenta ambivalente: capaz de revolucionar o acesso ao conhecimento e enfrentar desafios históricos, como o analfabetismo, mas também de esbarrar em riscos de desumanização.
Nesse sentido, Houngbo defende que essa tecnologia deve atuar com uma aliada:
- Tecnologias de IA podem democratizar o acesso a conteúdos pedagógicos adaptativos, superar barreiras geográficas e linguísticas e oferecer suporte personalizado a estudantes com dificuldades.
- A mediação de professores, o estímulo à criatividade e o desenvolvimento de habilidades socioafetivas são irredutíveis. A IA deve ser integrada para otimizar tarefas administrativas ou repetitivas, liberando educadores para focar no mentorado e no diálogo crítico.
Para Houngbo, o equilíbrio entre inovação e humanismo na educação depende de um pacto ético.
Isso implica investir na capacitação de professores para uso crítico de ferramentas digitais, criar políticas que vinculem a adoção de IA a metas de inclusão, dentre outras ações nesse sentido.
Conclusão: Equilibrando Inovação e Proteção
A missão da OIT, segundo Houngbo, é encontrar o equilíbrio entre inovação tecnológica e proteção dos trabalhadores.
Ele expressa preocupação com a visão da IA focada apenas no ganho econômico, defendendo uma abordagem holística que integre sustentabilidade ambiental e proteção social, com os três pilares avançando juntos.
Em seu veredito, Houngbo declara: “A IA é uma oportunidade. No entanto, devemos moldar políticas para garantir que ela beneficie a humanidade como um todo.”
A IA, para ele, é uma ferramenta poderosa para transformar o mercado de trabalho e a sociedade, mas seu sucesso dependerá da capacidade coletiva de construir um futuro onde a tecnologia impulsione o progresso humano de forma equitativa e sustentável.
Este artigo é um resumo dos principais pontos da entrevista exclusiva concedida por Gilbert Houngbo, Diretor-Geral da OIT, à jornalista Lisa Louis da Deutsche Welle (DW).
Para uma compreensão mais completa das perspectivas de Houngbo sobre o futuro do trabalho na era da IA, assista à entrevista completa.
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