A Inteligência Artificial está cada vez mais presente no nosso dia a dia, mas até que ponto ela é realmente ‘inteligente’? O neurocientista Miguel Nicolelis, professor emérito da Universidade de Duke, desafia o entusiasmo excessivo em torno da tecnologia. Para ele, essa tecnologia não é tão revolucionária quanto se pensa. Afinal, o que chamam de Inteligência Artificial <Não é Inteligente>
Miguel Nicolelis: Um Crítico com Credenciais

Nicolelis não é um cético qualquer. Com décadas dedicadas à neurociência, suas contribuições são tão concretas quanto revolucionárias. Na Universidade de Duke, liderou pesquisas pioneiras sobre neuroplasticidade – a capacidade do cérebro de se reorganizar após lesões –, desvendando como neurônios podem se adaptar para controlar membros virtuais ou até mesmo exoesqueletos robóticos. Um de seus feitos mais emblemáticos ocorreu em 2014, quando um exoesqueleto controlado por sinais cerebrais permitiu que um jovem paraplégico desse o chute simbólico da abertura da Copa do Mundo no Brasil.
Sua expertise em interfaces cérebro-máquina – tecnologia que traduz atividade neural em comandos para dispositivos externos – abriu caminhos para a reabilitação de pacientes com paralisia, e ao mesmo tempo reforçou sua visão sobre a singularidade da inteligência biológica. Para Nicolelis, o cérebro humano não é um mero processador de dados: é um sistema dinâmico, moldado por bilhões de anos de evolução, que integra emoção, contexto ambiental e interações sociais.
A IA não é Inteligente, nem Artificial
Nicolelis não se limita a criticar a Inteligência Artificial (IA) por princípio. Sua argumentação é embasada em uma premissa biológica: inteligência é um fenômeno orgânico, emergente da interação entre organismos vivos e seu ambiente. Por mais avançadas que sejam, as máquinas não replicam essa dinâmica evolutiva de bilhões de anos.
A IA atual, segundo ele, opera como um “grande sistema estatístico”, refinando técnicas matemáticas já conhecidas – como redes neurais –, mas sem compreender o que processa. Um exemplo claro: modelos como o GPT-4 geram textos baseando-se em probabilidades entre palavras, e não em pensamento criativo. Para Nicolelis, isso expõe uma ironia: a tecnologia chamada de Inteligência Artificial depende inteiramente de supervisão humana para treinar dados, corrigir vieses e validar resultados.
Limitações Técnicas com Consequências Práticas
- Dependência de dados históricos: Sistemas como o Midjourney combinam padrões existentes para criar imagens, mas não inventam estilos revolucionários, como o cubismo.
- Falta de compreensão: Algoritmos de diagnóstico médico podem identificar tumores em radiografias, mas não explicam suas causas nem consideram o estado emocional do paciente.
- Custo energético: Treinar o GPT-3 consumiu energia equivalente a 123 carros médios circulando por um ano.
Nicolelis reforça que o avanço da IA se deve mais a ganhos computacionais (como chips mais rápidos) do que a descobertas sobre a cognição humana. Em seu livro O Verdadeiro Criador de Tudo (2020), ele lembra: “O cérebro humano não é um software. É um órgão que evoluiu para sobreviver, não para processar dados.”
Um Futuro Preso ao Passado
Nicolelis alerta para um paradoxo: quanto mais usamos a IA para ‘prever o futuro’, mais ficamos presos aos padrões do passado. Plataformas como Netflix e Spotify, por exemplo, recomendam conteúdos similares ao que já consumimos, criando bolhas que inibem descobertas genuínas.
E o problema não se limita ao entretenimento. Em 2021, durante um painel da ONU, Nicolelis destacou casos como o COMPAS, algoritmo judicial dos EUA que perpetuou condenações racistas ao usar dados históricos enviesados. Para ele, esse é o cerne do problema: “A IA é um espelho que reflete nossas falhas passadas, não uma lente para um futuro melhor.”
Quem mais Desafia o Hype?

Além de Miguel Nicolelis, outros especialistas alertam para os custos ocultos da IA, especialmente no que diz respeito ao impacto ambiental e à concentração de poder. Timnit Gebru, ex-pesquisadora do Google e fundadora do Distributed AI Research Institute (DAIR), é uma das vozes mais críticas. Em seu estudo ‘On the Dangers of Stochastic Parrots’ (2021), ela destaca:
- Impacto ambiental: O treinamento de um único modelo de IA pode emitir até 284 toneladas de CO₂, agravando a crise climática.
- Concentração de poder: Grandes corporações, como Google e Microsoft, controlam a maior parte dos recursos de IA, marginalizando pesquisadores independentes e países em desenvolvimento.
- Falta de transparência: Muitos modelos de IA são desenvolvidos sem avaliação de seus impactos sociais e ambientais, priorizando lucro sobre ética.
Gebru também aponta que a IA não é uma tecnologia neutra: ela reflete e amplifica desigualdades existentes, tanto em termos de acesso quanto de impacto. Para ela, assim como para Nicolelis, a solução passa por um desenvolvimento mais descentralizado e sustentável, que priorize o bem-estar humano e ambiental sobre o crescimento corporativo.
Conclusão: Por um Debate Além do Hype
Vozes como a de Miguel Nicolelis nos lembram que, embora poderosa, a Inteligência Artificial não é a revolução que muitos imaginam. Longe de ser uma forma de inteligência autônoma, esta é uma ferramenta poderosa, mas limitada – e seu uso indiscriminado pode amplificar desigualdades, comprometer o meio ambiente e até mesmo atrofiar habilidades humanas que dependeram de séculos para serem desenvolvidas.
O futuro da Inteligência Artificial não pode ser definido apenas por interesses comerciais ou pela busca cega por automação. Em vez disso, precisamos de um diálogo amplo e crítico, que coloque o bem-estar humano no centro das decisões.
Agora que você conheceu a perspectiva crítica de Miguel Nicolelis sobre a Inteligência Artificial, que tal levar esse debate adiante? Compartilhe este texto com amigos, familiares e colegas para estimular uma reflexão mais profunda sobre os impactos atuais e futuros da IA. Afinal, o futuro da tecnologia não é uma questão apenas para especialistas – é uma conversa que diz respeito a todos nós.